Tristemente influenciada por um professor freudiano libertino, peguei um livro do Marquês de Sade sob promessas de encontrar um grande escritor. A idéia era postar algo sobre isso. Mas farei minhas as palavras da escritora norte-americana Dorothy Parker sobre alguma literatura tão terrível quanto a de Sade: “este não é um livro para ser deixado de lado. É para ser jogado longe, com força”. Então, resolvi mudar o assunto. Como estou na fase do pré-projeto da monografia, vou falar sobre o que tenho lido para o ponto de partida do trabalho, uma forma de pensar no que devo entregar e apresentar amanhã.
Minha intenção é abordar o mito grego no cinema, tendo como problemática o porquê da persistência de certas histórias na humanidade. Para isso, escolhi as narrativas cinematográficas por serem atuais, acessíveis à pesquisa e sobretudo atraentes, além de que eu posso fazer uma infinidade de analogias com os temas mitológicos.
Já é fato comprovado pela psicologia que certos sonhos, mesmo de alguém que nunca ouviu, leu ou soube de qualquer história de mitologia ou algo parecido, possuem a estrutura e a essência exata dos nossos mitos antigos, obviamente adaptados à vida de quem sonha. Tanto que é imprescindível para os psicanalistas o estudo mitológico, uma vez que, de posse desse conhecimento, terão meios para compreender as mensagens do inconsciente e, dessa forma, tratar do paciente.
Um caso que ilustra essas narrativas que parecem tão inerentes à natureza humana foi contada pelo psiquiatra suíço Carl Gurtav Jung. Na clínica onde trabalhava, tinha um esquizofrênico que sempre chamava os médicos para olharem o Sol e dizia que deveriam mover a cabeça de um lado a outro, pois, assim, veriam uma calda que pendia do Sol e se balançava para frente e para trás. Isso, falava ele, era a origem do vento.
Tempos depois, lendo uma liturgia mitraica, o que Jung encontrou? Os iniciados dessa religião viam um tubo pendular que descia do Sol e fazia surgir o vento.
Dois anos depois da morte do psiquiatra, saiu um artigo no jornal The New York Times, de 11 de novembro de 1963, p. 33, noticiando que astrofísicos observaram por dois dias uma espécie de rabo pendurado no Sol e que isso teria qualquer relação com o vento.
O que tem a ver com minha monografia? Histórias que se repetem! Uma natureza estranha e transcendental que leva nossos inconscientes para um mesmo ponto de respostas ou seríamos seres sem grande criatividade para inventar novas narrativas?
São meus objetos de análise: O Labirinto do Fauno (um ser acumulador de benefício geral que é destruidor e enlouquecedor, mas, ao mesmo tempo, benigno e constitui o princípio vivificador do mundo. No estilo da tragédia grega, a morte prevalece, mas para dar vida eterna e a garota é o herói redentor), Sete Espadas (Vênus possui um cinto mágico com as 7 armas da sedução feminina, Níobe tem 14 filhos sendo 7 homens e 7 mulheres, são 7 os tubos da flauta de Pã, são 7 as cordas da lira de Apolo, Íris tem 7 véus, são 7 moças e 7 rapazes que o monstro Minotauro exige anualmente como sacrifício e assim vai...) e Superman – O Retorno (alguma semelhança com Zeus, Apolo, Aquiles, Minerva, Hércules, Mercúrio?).
Propositalmente peguei produções recentes e de países distintos para que eu possa defender, através da análise de conteúdo, tanto a atemporalidade como a universalidade de histórias que foram contadas nos mitos e se repetem mais uma vez nas modernas produções cinematográficas. Sem contar que os três tiveram grande receptividade na época do lançamento, como comprova os 14 prêmios do Labirinto, entre eles, 3 Oscars; Sete Espadas abriu festivais de cinema como o de Veneza, em 2005; e Superman recebeu uma indicação ao Oscar de Melhores Efeitos Especiais e outra no BAFTA na mesma categoria.
E, reparem: todos têm o mocinho que leva uma vida normal, é chamado à aventura, encontra amigos e rivais e nãnãnã nãnãnã, até que, finalmente, sai desse mundo com os ensinamentos adquiridos durante a trama.
Pense em Old Boy, Matrix, Amelie Poulain, até comédias românticas (o encontro com aquela pessoa é o novo mundo das aventuras) ou quase qualquer filme que você quiser.
Mas mesmo com tantas recontagens continuamos indo ao cinema, chorando, nos apaixonando e nos libertando com tudo o que já vimos antes. Mas, particularmente, acho que nesses casos não importa o que, mas como.
E pronto! Aqui está parte do roteiro do meu filme. Só terei que ocultar devaneios do tipo “a natureza transcendental”, senão cancelam meu projeto de novo.
LLLL
(continua)